“A COP da contradição”, diz especialista em crise climática sobre a conferência do clima no coração da Amazônia
- Luiz Eduardo de Castro
- 1 de jul.
- 3 min de leitura
Por Angela Cardoso, Cleo Bonneterre e Luiz Eduardo de Castro

O Brasil vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em um momento delicado na área ambiental. Ao mesmo tempo que recebe em Belém (PA), no coração da Amazônia, líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil, para discutir e negociar ações para combater as mudanças climáticas, o país está prestes a aprovar o PL 2.159/2021, projeto de lei que visa a unificar e simplificar as regras de licenciamento ambiental no Brasil. Ambientalistas e críticos o apelidaram de "mãe de todas as boiadas", devido à sua potencial flexibilização das normas ambientais, alegando que pode abrir caminho para a devastação ambiental.
A ativista ambiental Fernanda Carvalho, líder de Políticas de Clima e Energia do WWF Internacional, chama o evento de “COP das contradições” porque oferecerá a oportunidade de dar visibilidade à Amazônia e às contradições que permeiam as políticas ambientais brasileiras. Para ela, o local escolhido simboliza tanto o protagonismo quanto os desafios do
Brasil no combate às mudanças climáticas.
A conferência, avalia a ativista, pode ser um divisor de águas para o Brasil em sua trajetória rumo a uma economia verde. Para ela, o país tem a chance de abandonar modelos extrativistas e abraçar um desenvolvimento baseado na floresta em pé e na sociobiodiversidade. “O Brasil pode e deve ser protagonista de um novo paradigma”, conclui. Com suas contradições expostas, a COP30 em Belém não será apenas um evento: será um teste de coerência e liderança em um mundo em crise.
A confirmação do Brasil como sede da conferência foi recebida com entusiasmo por parte de organizações da sociedade civil e especialistas em clima. Para Fernanda Carvalho, a decisão do presidente Lula de bancar a candidatura do país — tomada com dois a três anos de antecedência, como é de praxe — sinalizou um reposicionamento do Brasil no cenário climático global, após um período de afastamento durante o governo anterior. No entanto, esse gesto simbólico foi acompanhado de atitudes que soaram contraditórias: no mesmo ano em que se anunciou a COP na Amazônia, o Brasil também manifestou interesse em ingressar na OPEP, grupo de países produtores de petróleo. Para Fernanda, essa é uma das grandes incoerências que minam a credibilidade de um país que deseja liderar o debate climático.
Outro ponto sensível é o perfil das emissões brasileiras. Enquanto globalmente a maior parte das emissões de gases de efeito estufa está ligada aos combustíveis fósseis (cerca de 75% a 80%), no Brasil, o quadro se inverte: aproximadamente 75% das emissões vêm do desmatamento, da agricultura e do uso da terra. Isso faz com que a realização da COP na Amazônia tenha ainda mais relevância simbólica e estratégica. “A floresta é a principal fonte de emissões do país, então não faz sentido falar de liderança climática sem enfrentar esse problema de frente”, afirma Fernanda. Assim, além das negociações multilaterais, há uma expectativa de que o Brasil use o evento como catalisador para políticas domésticas mais coerentes com seus compromissos internacionais.
O objetivo principal da COP (Conferência das Partes), órgão supremo da ONU sobre mudanças climáticas, é discutir e implementar as estratégias do Acordo de Paris, firmado há 10 anos para limitar o aquecimento global abaixo de 2°C até o final do século.
Neste especial, a turma de Laboratório de Jornalismo I (2025-1) faz um giro pelo Brasil e pelo planeta para mostrar, entre problemas e soluções, questões centrais no debate sobre o futuro ambiental do planeta. Os alunos mostraram desde situações locais, como o declínio de antigos cartões postais no fundo da Baía de Guanabara, à experiências que podem fazer a diferença, desde o sol que vai dispensar o uso de tecnologias poluentes para a geração de energia ao projeto educacional para crianças de uma escola de comunidade no Rio.
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