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Ex-ministro do Estado do Rio nega mudanças climáticas

Ernesto Araújo afirma não acreditar em aquecimento global e que uma “ditadura climática” é usada para atacar o Brasil


Por: CLEO BONNETERRE

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante sua participação na conferência da ONU Foto: Reprodução
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante sua participação na conferência da ONU Foto: Reprodução

A estratégia mais comum dos negacionistas climáticos é a disseminação de dúvidas e incertezas sobre o aquecimento do planeta, segundo a agência de checagem de informações Lupa. No Brasil, um dos personagens que simboliza o fenômeno é o ex-ministro das Relações Exteriores (Governo Bolsonaro) Ernesto Araújo. Depois de marcar a sua passagem pelo poder com ataques ao aquecimento global, ele até hoje ocupa as redes sociais com polêmicas como a de dizer que uma “ditadura climática” é usada para atacar o Brasil, o que impede o debate.


Ernesto Araújo é visto pelas agências de checagem como um negacionista clássico. Ele afirmou que as matérias publicadas sobre mudanças climáticas são sensacionalistas e não relatam o que de fato acontece. O ex-ministro negou o aumento do desmatamento no país e que as queimadas estão na média prevista. Desde a saída do governo, Araújo atua como professor de um curso de logopolítica, no qual expõe os ideais negacionistas e ataca opiniões que vão contra essa concepção.


Ao negar a existência e os impactos das mudanças do clima, Aráujo contribui para a divulgação de fake news na internet e favorece o crescimento da desinformação climática na sociedade. No curso de logopolitica que o ex-ministro leciona há quatro anos, ele afirma que os seres humanos não têm nenhuma responsabilidade pelo aquecimento global e desacredita em informações científicas. Essas afirmações refletem diretamente no aumento da circulação deste tipo de conteúdo nas redes sociais, que se disseminam de inúmeras maneiras. As declarações feitas por Araújo tendem ainda a ter um impacto social mais grave, pois com um viés político elas ganham legitimidade, circulam com mais rapidez e têm a capacidade de alcançar um número maior de pessoas. 


Assim, o trabalho do fact-checking ganha cada vez mais relevância dentro de uma sociedade na qual a velocidade da desinformação é cada vez maior. A Lupa verificou declarações de Araújo em algumas ocasiões, entre elas a fala do político durante uma reunião da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara durante o governo Bolsonaro, na qual ele diz “O que se verifica é que basicamente todos os modelos de mudança climática do IPCC, desde o começo dos anos 1990, têm previsto uma mudança muito abrupta de temperatura que não tem se verificado”. Logo em seguida, a agência fez a checagem e desmentiu as informações de Araújo ao publicar que, ao contrário do que ele afirma, as medições atuais de temperatura média global estão dentro das previsões realizadas já no primeiro relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), de 1990. 


O vereador do Rio, Roberto Amorim afirmou concordar com as afirmações negacionistas de Ernesto Araújo. Ao ser questionado sobre a “ditadura climática” ele argumentou que temas como justiça social e mudanças climáticas são utilizados como pretextos para impor regimes autoritários. Ele comparou os pedidos de boicote a produtos brasileiros, devido às queimadas na Amazônia, com uma "justiça stalinista", sugerindo que há uma tentativa de silenciar o debate sob a alegação de uma crise climática. Além disso, usou uma experiência pessoal para questionar o aquecimento global. "Não acredito em tudo que é divulgado sobre o aquecimento global. Fui à Espanha em fevereiro e estava tendo uma onda de frio enorme. Isso só mostra como as teorias seguem um mesmo padrão sensacionalista”. 


Já a doutora em Filosofia pela PUC-Rio, com ênfase em questões ambientais, Alyne Costa, explica que o negacionismo científico compromete o entendimento da sociedade ao transformar temas já consolidados em controvérsias, como o aquecimento global. “Trata-se talvez do fato científico com maior conciliação de evidências da história da ciência”, afirma. Para ela, os negacionistas exploram a imagem tradicional da ciência como produtora de leis absolutas e ignoram a complexidade da ciência climática, que se constrói com base em múltiplas áreas e modelagens interdisciplinares. 


Alyne destaca ainda que os discursos negacionistas criam uma falsa simetria entre opiniões pessoais e o conhecimento produzido coletivamente pela comunidade científica. “Eles se colocam como os Galileus modernos, solitários contra uma suposta máfia do ‘climatismo’, mas não passam pelo crivo da ciência legítima — não publicam em revistas reconhecidas nem participam do processo de validação por pares”, reforça. Ela ressalta que essa visão alimenta teorias conspiratórias e desinforma a população sobre como a ciência realmente funciona.


Outras falas recentes do Ernesto Aráujo nas redes como “Eu acho sim que a crise climática tem sido usada como pretexto para impor uma agenda globalista, que busca limitar a soberania das nações e controlar o debate político em nome de uma suposta ciência incontestável.” e “Não nego que o clima mude, mas rejeito o ‘climatismo’, essa ideologia que transforma qualquer variação do tempo em justificativa para ditaduras verdes e ataques ao Brasil.” tendem a continuar alcançando um número cada vez maior de pessoas e, com isso, impactam diretamente a conscientização social e a importância em torno da crise climática.  Essas declarações refletem a visão de Araújo de que o debate sobre as mudanças do clima é utilizado como ferramenta política para promover agendas ideológicas e limitar a soberania nacional.


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