Guardiões do futuro: educação ambiental transforma rotina em escola pública do Rio
- Angela Cardoso
- 24 de jun.
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Atualizado: 25 de jun.
Com projetos ecológicos como coleta de óleo e reciclagem, o EDI Borel mobiliza crianças e famílias na luta pela sustentabilidade e justiça socioambiental na Tijuca
Por: Angela Cardoso

Com o objetivo de conscientizar crianças pequenas, entre 2 e 4 anos, e suas famílias sobre a crise climática e a importância do desenvolvimento sustentável, o Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Borel, escola da rede municipal na Tijuca, lançou um programa que integra educação ambiental à rotina escolar. O projeto envolve ações como a coleta de óleo de cozinha usado, contações de histórias que abordam temas como reciclagem e preservação ambiental, confecção de brinquedos com materiais reciclados e a instalação de lixeiras específicas para a separação de resíduos.
Iniciado no dia 10 de abril, o plano de dimensões com foco em sustentabilidade tem se destacado por implementar práticas concretas de educação ambiental. A diretora da instituição, Caroline Gonçalves, afirmou que o maior desafio da iniciativa é engajar as famílias e funcionários que não tiveram educação ambiental na infância. Ela explica que a iniciativa surgiu da preocupação com o impacto ambiental e da necessidade de sensibilizar não apenas as crianças, mas também as famílias dos alunos e os trabalhadores da escola sobre o reaproveitamento de materiais descartados.
“A população não teve educação ambiental quando jovem, portanto falta conhecimento, por parte dos pais e de alguns funcionários da unidade escolar, o que dificulta o engajamento”, disse Gonçalves.
Apesar disso, a diretora ressaltou que a comunidade escolar tem colaborado ativamente quando as propostas são apresentadas. Devido a esse obstáculo, a sexta proposta do plano de dimensão foi feita para a aproximação dos pais das tarefas sustentáveis da escola. Por meio do grupo de Whatsapp, agenda escolar e mídias digitais, a ação propõe às famílias a construção de brinquedos utilizando materiais recicláveis, nas próprias casas e com as crianças. A responsável por essa proposta, Aniele Ferreira, reconheceu a dificuldade de envolver os responsáveis nas ações. Ela discutiu como o envolvimento infantil vem por meio das atividades lúdicas. Porém, quando se trata dos responsáveis, ela afirma que “em conjunto com envolvê-los também nas atividades lúdicas, a comunicação e engajamento tem acontecido pelas redes sociais, principalmente”.
O plano de dimensões também promove exposições pela instituição, ao espalhar as lixeiras de reciclagem e os brinquedos confeccionados. Com esse tipo de demonstração, o alcance da mensagem ambiental aumenta. De acordo com a diretora, essa é uma maneira eficaz de introduzir o tema da sustentabilidade para os alunos menores, uma vez que percebem que brincam com objetos que elas mesmas ajudaram a criar.
Recicle Óleo
Um dos destaques do plano é o projeto “Recicle Óleo”, em parceria com a organização Descarte Operação Legal, que promove a coleta do óleo usado na cozinha. A escola incentiva a comunidade escolar – alunos, pais e funcionários – a guardar e trazer o óleo para a coleta, para facilitar o descarte correto e evitar que esse resíduo seja jogado no ralo ou lixo. O objetivo principal do projeto é impedir os entupimentos nas redes de esgoto e contaminação do solo e da água.
Também coordenada por Aniele Ferreira, essa iniciativa tem caráter educativo ao mostrar às crianças e aos pais como o óleo pode ser reaproveitado para a produção de biocombustíveis limpos, como o biodiesel.
“Ter um ponto de coleta de óleo de cozinha usado na unidade escolar, ao alcance da comunidade escolar, é uma forma de educar e conscientizar a comunidade, ao ampliar as possibilidades de reutilização de materiais descartados de forma irregular, que podem e devem ser utilizados para outros fins, que não prejudicam o meio ambiente. Então, sempre de maneira sustentável, vamos conseguir reduzir o descarte irregular do óleo e os danos ambientais que ele causa”, mencionou Ferreira.
Meio ambiente na comunidade
Em projetos sociais desenvolvidos em escolas públicas, a reflexão proposta por Alba Simon ganha especial relevância. Na coletiva de imprensa realizada no dia 7 de maio, na PUC - Rio, a bióloga e pesquisadora do Laboratório de Justiça Ambiental (UFF) defendeu a ideia da necessidade de politizar a natureza. “O meio ambiente inclui políticas socioambientais. Não pode excluir a natureza do seu contexto político. O que vai sobrar se apenas focarmos no ambiente e esquecer quem vive nele?”, debateu. Simon destacou que a educação ambiental não pode se limitar a aspectos apenas ecológicos, mas deve integrar fatores políticos, culturais e sociais, principalmente nas periferias.
Iniciativas que dialogam com as vivências dos alunos e famílias podem promover a participação comunitária, além de fortalecer o caráter político da educação ambiental. Essa perspectiva amplia o impacto dos projetos sociais na realidade que as crianças estão inseridas e, consequentemente, na dos pais também, que são os capazes de fazer mudanças sutis no dia a dia da comunidade.
“Essas ações começaram no início do mês de abril, e as demais ações serão realizadas ao longo do ano. A comunidade ainda descarta muito lixo na rua e no rio Maracanã, poluindo esse ambiente. Nosso objetivo é que, realizando essas pequenas ações, gradativamente os pais sejam conscientizados da importância. Se não cuidarem da natureza, o futuro das nossas crianças é o que vai ser prejudicado”, completou a diretora do Edi Borel.
O olhar das famílias
O impacto do projeto ambiental desenvolvido pelo EDI Borel vai além da escola ao alcançar o cotidiano das famílias dos alunos. Em diversos casos, os pais já adotavam práticas sustentáveis em casa, como a reutilização de materiais e economia de água, por exemplo. Thays Alves, mãe do aluno Theo Alves, relatou que essas iniciativas já existentes em sua casa conseguiram facilitar a integração e continuidade dessas ações propostas pela a escola. No entanto, destacou que o engajamento familiar ainda é um desafio, já que poucas famílias participam ativamente.
“Acho que deveria ter mais interesse entre as famílias, pois a escola manda projetos e são poucas famílias que interagem e se colocam à disposição de se envolver nas atividades”, disse ela.
A mãe elogiou o trabalho da escola, mas sugeriu o aumento de atividades em que os pais estão junto aos filhos, uma vez que elas fortalecem a conscientização e o compromisso com a sustentabilidade. “Mais atividades com todas as famílias, em geral” foi o que Thays sentiu falta na iniciativa do EDI Borel.
Além disso, por ser uma instituição para crianças muito pequenas, a mãe contou como a abordagem da escola é interessante. O aluno Theo, de 3 anos, já estava mais familiarizado com hábitos de preservação ambiental, por sua mãe realizá-los em casa, então teve facilidade em entender o porquê dos novos ensinos.
“Por conta da rotina dele ser a mesma em casa, Theo já estava acostumado com tarefas como a junção de garrafas pet para reciclagem e reutilização de água. Mas gostei da forma diferente que a escola escolheu para apresentar esse assunto aos alunos. Acho maravilhoso esse entretenimento com as crianças para mostrar e ensinar a importância sobre o meio ambiente”, comentou Thays.

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